Por que nem todos embriões congelados sobrevivem?

23 fev, 2021

O congelamento de embriões permite que eles sejam armazenados por um período indeterminado até o momento ideal em que serão transferidos para o útero. Mesmo sendo uma das técnicas mais utilizadas nos laboratórios de FIV, alguns embriões não sobrevivem a este processo. Diversos fatores podem interferir no congelamento e levar à morte de algumas células ou de todo o embrião. Dentre eles, estão a qualidade, algumas características intrínsecas do embrião e fatores ligados à técnica utilizada para o congelamento.

Atualmente a técnica de congelamento de embriões hoje utilizada é chamada de vitrificação. Ela foi uma grande evolução comparada à antiga técnica do congelamento lento, sendo altamente segura e eficiente em não prejudicar os embriões. Diversas pesquisas científicas já demonstraram que se obtém a mesma taxa de gravidez com embriões transferidos congelados por vitrificação ou a fresco. A taxa de sobrevivência desta técnica é alta: em torno de 95 a 98%, o que significa que a cada 100 embriões congelados aproximadamente 95 ou mais irão sobreviver no final do processo. Embora muito baixa, infelizmente não se pode dizer que a chance de um embrião morrer durante o congelamento e descongelamento é zero. E, de fato, falar de porcentagem pouco importa quando falamos de um embrião, de uma paciente e da esperança de uma gestação. É muito doloroso quando uma transferência é cancelada pelo fato do embrião não ter sobrevivido. Mas afinal, por que alguns embriões não resistem?

A vitrificação dos embriões envolve uma série de eventos, onde o embrião é exposto a soluções que vão prepará-lo para suportar as baixíssimas temperaturas do congelamento. Um processo semelhante ocorre no descongelamento, onde o embrião é reaquecido em soluções específicas e as células precisam voltar a funcionar normalmente. São processos que causam estresse para os embriões. O embrião precisa ter uma “maquinaria” específica que o torne apto para esse complexo processo de congelamento e descongelamento. Como não se tem como avaliar esse aparato interno, não se pode saber previamente se o embrião não tem competência para suportar o congelamento, sendo que somente quando descongela-se o embrião que essa pode ser uma hipótese, caso ele não sobreviva. Muitas vezes, o que observamos é que embriões de qualidade visual inferior tem uma maior chance de não sobreviverem. O estágio de desenvolvimento embrionário também pode interferir, sendo que embriões em estágio de blastocisto (que seria o dia 5 de cultivo embrionário) são considerados um pouco mais resistentes que os em estágio de 8 células  (dia 3).

A técnica de vitrificação tem vários pontos críticos que podem interferir na sobrevivência embrionária. Portanto, os protocolos utilizados devem ser previamente testados e o embriologista deve ter grande habilidade e muito treinamento para executá-la, além de escolher os materiais e os meios ideais para assegurar que tudo ocorra dentro do esperado. Entretanto, como esses controles fazem parte da rotina dos laboratórios, é muito difícil que a técnica em si prejudique os embriões ou seja a causa da não-sobrevivência após o descongelamento.

Percebe-se, portanto, que existem diversas razões que podem levar um embrião a não sobreviver ao congelamento e ao descongelamento. E, embora seja raro, este risco existe e pode acontecer em alguns casos. O importante é sempre lembrar que quando se trata de células vivas, não é possível dar certeza de como elas irão se comportar e reagir aos à técnica utilizada. Porém, pode-se afirmar com certeza que, atualmente, o congelamento de embriões é extremamente seguro e capaz de trazer muito mais benefícios do que riscos aos tratamentos.

 

 

Por Msc. Letícia Arruda