Blastocisto que não vale a pena biopsiar

24 out, 2022

O que considerar…

Na reprodução assistida, desde o advento da biópsia embrionária para detecção de aneuploidias cromossômicas ou doenças monogênicas surgiu a seguinte questão dentro dos laboratórios: será que eu biopsio ou não esse embrião? Partindo deste ponto o embriologista no seu dia a dia deve ter o conhecimento, entendimento, discernimento além da técnica para tomada de decisão se parte ou não para biópsia…
Deve ainda levar em conta fatores multidisciplinares avaliando histórico da paciente, fator de infertilidade, resultados anteriores e possibilidade de ciclos futuros, idade materna, numero de embriões formados e qualidade embrionária…

Quando fazer?

Idealmente devemos priorizar blastocistos a partir de grau 4 de expansão, com classificação BB ou melhor (Gardner), herniado ou não, conforme protocolo escolhido. Sabemos que o ideal não é fácil de se obter e com frequência vemos blastocistos que não atingem esses critérios. Para a tomada de decisão o embriologista deve considerar no mínimo dois fatores: 1- A qualidade das células que serão biopsiadas e 2- A qualidade do embrião após a biópsia, pois esses dois fatores combinados vão garantir resultado analítico satisfatório e viabilidade embrionária pós aquecimento para futura transferência…
Vale lembrar que cada serviço deve descrever seus critérios de inclusão para biópsia de forma clara e objetiva para que a equipe inteira saiba claramente quando e como fazer a biópsia além de validar suas condutas.

Quando esperar?

Quado os embrioes não atingiram os critérios descritos e pré-definidos, nestes casos deve-se avaliar individualmente o que se deve fazer. Usualmente a conduta mais frequente é manter o embrião em cultura por mais algumas horas para acompanhar seu desenvolvimento visando seu melhor momento para biópsia, entretanto a avaliação cabe ao embriologista. Tecnicamente, ao esperarmos, damos oportunidade ao embrião se desenvolver melhor, aumentar o numero celular, ou mesmo evidenciar quais as melhores células para serem biopsiadas. Entretanto, quando tomamos essa atitude podemos perceber em alguns embriões o desenvolvimento incorreto ou mesmo a parada do mesmo. Inicialmente pode parecer que não fizemos a melhor escolha em esperar, contudo em muitos casos os embriões se desenvolvem e permitem a biópsia, e em outros eles param seu desenvolvimento indicando a baixa qualidade do embrião em questão. Biopsiar a qualquer custo não é o objetivo, mas sim biopsiar embriões viáveis, que deem bons resultados e futura gravidez em caso de ser euploide. Por outro lado, não biopsiar um embrião sabidamente ruim de desenvolvimento evita um desgaste financeiro ao casal, um resultado muitas vezes ruim, outras, um resultado genético ok, mas sem embrião de qualidade (viavel) para transferir.

Quando descartar?

Existem algumas linhas de conduta técnicas e éticas sobre quando o assunto é descartar (biopsiar ou não) embriões, entretanto não é o objetivo deste texto, portanto não serão discutidas aqui.
Do mesmo modo que temos que desenvolver e executar os critérios de inclusão para biópsia, devemos ter os critérios de exclusão bem descritos, visto que é uma decisão tão importante, se não mais importante do que biopsiar os embriões.
Está disponível na literatura inúmeros artigos que relacionam morfologia com euploidia, portanto partindo do princípio que um blastocisto pobre em qualidade tem menor chance de ser euploide devemos avaliar se vale a pena ou não a biópsia considerando o resultado esperado para aquele embrião no cenário daquele casal. Avaliando por exemplo: a) se o casal está no seu primeiro ciclo, b) se tem outros blastocistos já biopsiados, c) se são de qualidade, d) qual idade e fator de infertilidade do casal, podemos tomar essa decisão de maneira consciente e técnica.

 

Autor: Vinicius Bonato

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