Congelar óvulos ou embriões – Qual deve ser minha escolha?

27 fev, 2023

Se você está lendo esse texto, tenho certeza que você já se fez essa pergunta antes. Muitas mulheres com o desejo de postergar a gravidez ponderam qual seria a melhor forma de preservar essa possibilidade. E esse tema vez ou outra aparece até em obras de ficção – como em Grey’s Anatomy, quando a Izzie congelou embriões (e não óvulos) antes de seu tratamento oncológico, porque foi informada que “suas chances seriam melhores no futuro”. Será que isso é verdade?

 

Como quase tudo na vida, essa também é uma daquelas situações que ambos os lados têm suas vantagens e desvantagens. Esperamos que esse texto possa ajudar na sua decisão!

 

Primeiro, é sempre bom recordar que óvulos são os gametas femininos, que ao serem fertilizados pelos espermatozoides (gametas masculinos) geram embriões. O óvulo fertilizado (zigoto) começa, então, a se dividir, passando pelo estágio de clivagem, compactação (mórula) e chegando ao estágio de blastocisto por volta do quinto dia de desenvolvimento.

 

Vale lembrar também que o óvulo é a maior célula do corpo humano e, assim, possui grande volume de água em seu citoplasma. Embriões em estágio de clivagem possuem células menores que o óvulo, e, portanto, possuem menor volume de água em seu citoplasma. Já blastocistos são formados por células bem pequenas em volume, porém possuem uma cavidade repleta de líquido – que aumenta conforme o grau de expansão do blastocisto.

 

Mas por que estamos falando de volume celular? Pois bem, o que acontece no congelamento é que as soluções crioprotetoras retiram a água das células para que elas possam entrar e preservar as estruturas celulares. Quanto maior o volume de líquido a ser substituído, mais margem há para formação de cristais de gelo, que podem ser prejudiciais à sobrevivência celular.

 

É por esse motivo que algumas pessoas podem achar que “é melhor congelar embriões do que óvulos” – como foi o caso fictício da Izzie. Realmente, óvulos são mais sensíveis ao processo de criopreservação, mas atualmente as taxas de sobrevivência de óvulos e embriões é muito similar, e giram em torno de 90-99%. Esclarecida essa questão, vamos pensar na destinação desse material caso não haja mais interesse em mantê-los congelados.

 

Um embrião envolve participação de duas pessoas (a não ser em caso de produção independente, feita com sêmen de doador), além da questão ética/moral/religiosa/filosófica de ser “uma vida em potencial”, o que pode gerar dúvidas, incertezas e desentendimentos na hora de descartá-los. Já os óvulos só pertencem à mulher, e é só dela a decisão de mantê-los ou descartá-los, quando quiser – além de não ser uma vida em potencial (já que sozinho não pode gerar um bebê), o que gera menos conflitos se a opção for o descarte.

 

Assim, a melhor decisão não é a mesma para todos os casos, não é uma receita de bolo. Em alguns casos, congelar óvulos pode parecer a solução mais indicada, como em mulheres que desejam preservar sua fertilidade e não possuem ou não querem se comprometer com um parceiro. Para casais que se encontram em uma união estável, cujo ambos os cônjuges possuem as mesmas vontades, talvez o congelamento de embriões possa ser o caminho a se considerar – ou, quem sabe, congelar os dois, embriões e óvulos! Tudo depende. Converse com seu médico e seu embriologista, avalie sua situação, seus sentimentos e suas vontades – esse é o caminho para a melhor decisão!

 

Ana Clara Esteves