Morfologia Embrionária X Euploidia

22 maio, 2023

Por: Mariana De Nadai

 

Os avanços nos sistemas de cultivo embrionário não apenas resultaram em um aumento significativo na taxa de implantação e gravidez, mas também facilitaram o desenvolvimento rotineiro de embriões humanos viáveis no laboratório de fertilização in vitro por mais de 5 dias, criando a possibilidade de transferência embrionária para as pacientes em qualquer estágio durante o período pré-implantacional. Independente do estágio de desenvolvimento embrionário e o dia da transferência adotado pelas clínicas, a transferência embrionária de apenas um embrião para o útero materno na FIV tem se tornado o objetivo principal da concepção por Reprodução Assistida. Entretanto, para maximizar a possibilidade de atingir a gravidez com sucesso, a capacidade de selecionar um embrião com o maior potencial de desenvolvimento é fundamental.

Desde o início da fertilização in vitro humana, a morfologia dos embriões tem sido o principal método usado pelos embriologistas para avaliar o desenvolvimento e selecionar os melhores embriões para serem transferidos. Com o passar dos anos, diferentes sistemas e métodos de avaliação foram criados na tentativa de selecionar o embrião com melhor desenvolvimento e viabilidade, o que se mostrou mais difícil do que talvez esperado, devido à natureza dinâmica do embrião durante o período de pré-implantação.

Diversas formas de avaliação embrionária foram propostas, desde a avaliação inicial do desenvolvimento dos embriões, através da morfologia pronuclear pelo alinhamento e número de nucléolos, até a classificação quanto as características dos embriões em desenvolvimento no Dia 2 e Dia 3 após fertilização.

Foi através da avaliação na fase de blastocisto que Gardner e Schoolcraft (1999) desenvolveram um sistema alfanumérico mais abrangente, projetado para incorporar tanto o grau de expansão da blastocele, quanto a qualidade e o número de células das duas linhagens celulares. Inicialmente, a taxa de expansão do blastocisto foi caracterizada por número, variando de 1 a 6, sendo, 1 menor e 6, um blastocisto eclodido. Analises subsequentes da massa celular interna (ICM) e qualidade do trofectoderma (TE) foram classificadas em grau A, B e C, sendo a última caracterizada como de pior qualidade. A lógica por trás dessa análise da aparência de ICM e TE foi baseada no desejo de semi-quantificar o grau de mitose que ocorreu em cada um dos tipos de células, uma vez que em modelos animais o número total de células e o desenvolvimento de ICM estão associados ao desenvolvimento fetal.

No entanto, este sistema não pode avaliar com precisão o estado de ploidia dos embriões. Com os avanços nas técnicas de genética molecular e o aprimoramento dos métodos de cultivo celular, o Teste Genético Pré-implantacional para Aneuploidias (PGT-A) com o Sequenciamento de Nova Geração (NGS) pode ser considerado um método confiável para melhorar a seleção embrionária através da identificação de embriões euploides com quantidade normal de cromossomos.

Na tentativa de correlacionar a avaliação morfológica com euploidia, alguns estudos demonstram que a massa celular interna e as células do trofectoderma são fortes preditores de nascidos vivos e podem melhorar a seleção entre embriões euploides, principalmente considerando a massa celular interna. Estudo recente avaliou o efeito da morfologia e a taxa de desenvolvimento dos blastocistos em embriões euploides e taxa de nascido vivo em ciclos de transferência embrionária, e descobriram que, embriões de qualidade boa e média são capazes de produzirem taxas de euploidia significativamente mais altas para pacientes da mesma faixa etária. Ainda, encontraram que embriões com desenvolvimento mais rápido (dia 5) têm maior probabilidade de serem euploides que embriões com desenvolvimento mais lento (dia 6), especialmente quando a idade materna é menor que 35 anos.

Entretanto, foi com o advento da Inteligência Artificial (IA), que diversos estudos surgiram à fim de correlacionar o desenvolvimento embrionário através da IA com o status genético do embrião (ploidia) durante a FIV. A grande maioria tem mostrado resultados animadores, demonstrando superioridade e confiabilidade comparado ao método de classificação embrionária convencional. Porém, mais estudos ainda são necessários, para que os parâmetros de análise sem mostrem verdadeiramente seguros na seleção de embriões cromossomicamente normais.

Portanto, até o presente momento, o método de seleção embrionária baseada em classificação morfológica convencional pode auxiliar na escolha dos embriões potencialmente euploides, principalmente quando associado a Inteligência Artificial, porém o método mais seguro de avaliação de ploidia é a Biopsia Embrionária seguida do Teste Genético Pré-Implantacional para Aneuploidias.

 

Referências

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