Apresentando o laboratório
04 jun, 2024
“O que acontece do laboratório de reprodução assistida, fica no laboratório de reprodução assistida”. Correto? E a resposta para essa pergunta é simples: não. Ainda hoje, muitos casais se perguntam como é realizado o procedimento de fertilização in vitro (FIV) e onde seus embriões permanecem armazenados até o momento da tão sonhada transferência embrionária. Para começar, precisamos explicar que normalmente o laboratório é dividido em setores, como a embriologia, a andrologia e a criopreservação e, os profissionais responsáveis pelas técnicas executadas são os embriologistas e os andrologistas.
A embriologia é o setor responsável pela análise no liquido folicular durante a captação dos oócitos, injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), biópsia embrionária, vitrificação e desvitrificação de embriões e gametas femininos e a transferência embrionária. Os oócitos coletados durante a captação podem ser vitrificados, destinados para a FIV clássica ou injetados através da técnica de ICSI. Na FIV clássica, os oócitos são colocados em um meio de cultivo contendo espermatozoides. Já na ICSI, após a realização da denudação, ou seja, a retirada de células do cumulus, ocorre a injeção mecânica de um único espermatozoide no oócito. Essa técnica é realizada utilizando um micromanipulador, que possui agulhas que auxiliam no processo de quebra da cauda do espermatozoide e injeção nos oócitos maduros. Após o procedimento de FIV clássica ou ICSI, os oócitos são armazenados em placas de meio de cultivo e colocados em incubadoras a 37°C (ZHENG et al., 2019; GELO et al, 2019; AGARWAL et al, 2022).
Entre 16 e 20 horas após o procedimento de ICSI, é realizada a checagem da fertilização. As células permanecerão em cultivo até 7 dias. Durante esse período, os embriões podem ser congelados, transferidos ou biopsiados para a análise de alterações genéticas (NERI et al., 2014; ALMAGOR et al., 2020; XUE et al, 2022).
O outro setor que compõe o laboratório é andrologia, responsável pela análise, processamento e congelamento seminal. De acordo com o Manual de Processamento Seminal da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 2021, após a coleta do sêmen, aguardamos a liquefação da amostra, que ocorre em até 60 minutos. Em seguida, é realizada a análise de concentração e motilidade dos espermatozoides e o processamento seminal, utilizando meios adequados para selecionar os melhores espermatozoides para o procedimento de FIV clássica ou ICSI.
Caso os pacientes desejem congelar gametas ou embriões, essas amostras ficarão armazenadas em botijões contendo nitrogênio líquido a -196°C em um terceiro setor: a sala de criopreservação. Essas amostras serão mantidas por meio de reposições semanais de nitrogênio (XINGZHU et al, 2021; LI et al, 2023).
Por fim, toda manipulação de amostras deve ser realizada em uma área limpa, impedindo que partículas do meio externo entrem nesse ambiente controlado. Para isso, todos os setores que compõe o laboratório de reprodução assistida são altamente monitorados, sendo realizados controles diários para verificação da temperatura de salas, incubadoras e refrigeradores, e do nível de nitrogênio nos botijões e gases das incubadoras, proporcionando o melhor ambiente para o desenvolvimento embrionário in vitro.
Referências:
AGARWAL, A. et al. Oxidative Stress and Assisted Reproduction: A Comprehensive Review of Its Pathophysiological Role and Strategies for Optimizing Embryo Culture Environment. Antioxidants, v. 11, n. 3, p. 477, 28 fev. 2022.
ALMAGOR, M. et al. Spontaneous in vitro hatching of the human blastocyst: the proteomics of initially hatching cells. In Vitro Cellular & Developmental Biology – Animal, v. 56, n. 10, p. 859–865, 16 nov. 2020.
GELO, N. et al. Influence of human embryo cultivation in a classic CO2 incubator with 20% oxygen versus benchtop incubator with 5% oxygen on live births: the randomized prospective trial. Zygote, v. 27, n. 3, p. 131– 136, 10 maio 2019.
LI, X. et al. The optimal frozen embryo transfer strategy for the recurrent implantation failure patient without blastocyst freezing: thawing day 3 embryos and culturing to day 5 blastocysts. Zygote (Cambridge, England), v. 31, n. 6, p. 596–604, 1 dez. 2023
NERI, Q. V. et al. Understanding fertilization through intracytoplasmic sperm injection (ICSI). Cell Calcium, v. 55, n. 1, p. 24–37, jan. 2014.
XINGZHU, D. et al. Cryopreservation of Porcine Embryos: Recent Updates and Progress. Biopreservation and Biobanking, 24 fev. 2021
XUE, Y. et al. Gene mutations associated with fertilization failure after in vitro fertilization/intracytoplasmic sperm injection. Frontiers in Endocrinology, v. 13, 16 dez. 2022
ZHENG, D. et al. Intracytoplasmic sperm injection (ICSI) versus conventional in vitro fertilisation (IVF) in couples with non-severe male infertility (NSMIICSI): protocol for a multicentre randomised controlled trial. BMJ Open, v. 9, n. 9, p. e030366, set. 2019.
Raissa de Vasconcelos Cavalcanti
Biomédica especialista em Reprodução Humana Assistida e Gestão de Qualidade e Segurança do Paciente. Embriologista responsável pelo Laboratório de Andrologia e pela Gestão de Qualidade da Clínica Conceptus – Fortaleza.