Transferência de embriões em ciclos frescos ou congelados?

28 ago, 2024

Se esta pergunta fosse feita no início das minhas atividades na reprodução humana assistida, em 1998, a resposta, sem sombras de dúvidas seria: transferência de embriões a fresco no mesmo ciclo.

Hoje em dia, com a padronização já estabelecida da criopreservação de embriões, usando a técnica de vitrificação e posterior aquecimento com as taxas de sobrevivência próxima de 100%, minha resposta mudou radicalmente: é preferível o uso de rotina a criopreservação embrionária para transferência em ciclos subsequentes.

Vários centros, atualmente, optam pelo protocolo freeze all (congelamento total de embriões) e fundamentam essa escolha em inúmeros trabalhos que corroboram com essa mudança (Cohen, 2012; Kuwayama, 2007; Cobo, 2012; Wong, 2014; Chang,2021), os quais demonstram inclusive que a técnica está bem estabelecida. Esses estudos mostram resultados de gestações clínicas iguais ou superiores quando usados embriões vitrificados/aquecidos comparados com transferência embrionária a fresco no mesmo ciclo, sem alteração significativa no custo do procedimento. Diversos podem ser os motivos para que haja o impedimento na transferência de embriões no mesmo ciclo, tais como: níveis elevados de progesterona, síndrome de estimulação ovariana, endométrio inadequado, análise genética pré-implantacional dente outros.

A estratégia do centro que trabalho opta pelo protocolo de ciclos com freeze all com a transferência dos embriões em um ou mais ciclos subsequentes. A preparação endometrial e níveis de progesterona são de grande importância para aumentar a possibilidade de sucesso (Labarta et al, 2011), protocolo este que permite estabelecer o melhor momento para a transferência embrionária trazendo mais flexibilidade e eficácia ao processo.

Reforçando o uso do protocolo freeza all como uma boa escolha, cito a tese de mestrado de Beatriz Gomes Domingues, que fez um estudo retrospectivo 2021/2022, avaliando o sucesso da transferência de embriões frescos versus embriões criopreservados, pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Portugal. No estudo, obteve-se uma amostra de 319 pacientes com idade ovocitária <35 anos. Foram feitas 737 transferências embrionárias, sendo 406 embriões a fresco no mesmo ciclo e 331 no ciclo de embriões congelados. O estudo obteve resultados parecidos com os encontrados por Aflatounion,A. et al (2010).

Como se observa, os estudos mostram taxas de sucesso melhores quando usada a técnica de embriões criopreservados. O avanço da tecnologia e dos estudos em embriologia têm aumentado consideravelmente a eficácia nos procedimentos.

 

Referências:

Aflatounian, A.; Oskouian, H,; Ahmadi, S.; Oskouian, L. Can Fresh embryo transfers be             replaced by cryopreserved-thawed embryo transfer in assisted reproductive cycles? A randomized controlled trial. J. Assist \reprod Genet , 27:357, 2010

Alvarenga, R.; Diniz, P.; Cohen, C. 30 anos de Embriologia no Brasil. As Editorial 89-94, 2023.

Domingues, B.G, Estudo retrospectivo do sucesso das transferências de embriões a fresco versus embriões criopreservados. Tese de mestrado, Universidade do Porto 2021/2022

Azambuja, R.M., et al. Reprodução Assistida Técnicas de laboratório. PRONÚCLEO Editora G 15:179, 2017.

Cobo, A et al. Outcomes of Vitrifield early cleavage-stage and blastocyst-stage embryos in a cryopreservation program: evaluation of 3,150 warming. Fertl steril, 98:1138-46, 2012.

 

Labarta, E.: et al. Endometrial receptivity is effected in Woman with high circulating progesterone leveis at the endo f the folicular phase: a functional genomic analysis. Hum Reprod. 26:1813-25, 2011

 

Temizio Rodrigues Pereira

Embriologista Sênior

Huntington Brasília