Vale a pena esperar óvulos amadurecer para injetar?

02 set, 2024

Após um ciclo de estimulação ovariana, aproximadamente 15-30% dos óvulos recuperados são imaturos, permanecendo no estágio de metáfase I (MI) ou no estágio de prófase I (PI), caracterizado pela presença da vesícula germinativa (VG). Ainda não entendemos completamente por que esses óvulos não respondem ao gatilho exógeno in vivo para a maturação nuclear até a metáfase II (MII). Isso pode ser devido a uma dessincronia entre os folículos em desenvolvimento, recuperação prematura, aspiração de folículos antrais menores, ou resposta inadequada à estimulação.
Embora os óvulos em PI ou MI não sejam adequados para a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), muitos amadurecem espontaneamente in vitro até MII, com extrusão do primeiro corpo polar. Dessa forma, eles podem potencialmente ser usados no procedimento de ICSI.

Figura 1: Classificação dos óvulos de acordo com a maturação nuclear.

A utilização de óvulos imaturos recuperados após ciclos estimulados é um tema controverso, e as práticas clínicas variam entre os centros de fertilização in vitro devido às limitações dos dados existentes. Alguns centros optam por descartar os óvulos imaturos sem tentar cultivá-los até a maturidade (MII) ou realizar a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). Por outro lado, alguns centros realizam ICSI nesses óvulos que inicialmente não tinham atingido ao estágio ideal de maturação (MII).

De acordo com Mandelbaum, óvulos que estão imaturos no momento da denudação e que posteriormente amadurecem in vitro e passam por ICSI, apresentam uma capacidade reprodutiva reduzida em comparação com óvulos que já estão em MII no momento da denudação. Sendo que esses óvulos imaturos estão associados a taxas de fertilização mais baixas, desenvolvimento embrionário anormal, aneuploidia e qualidade inferior do embrião. No entanto, é importante destacar que nascimentos vivos foram relatados a partir de embriões derivados de óvulos que eram inicialmente imaturos em ciclos estimulados. Isso demonstra que, apesar dos desafios, o uso de óvulos imaturos pode resultar em sucesso para alguns pacientes, e podem ser considerados em casos de mau prognóstico ou taxas de maturação abaixo da expectativa.

Este mesmo estudo demonstrou que embora óvulos inicialmente imaturos tenham menor potencial de desenvolvimento em comparação aos óvulos maduros recuperados após a estimulação ovariana controlada, aqueles que amadurecem mais tarde no dia 0 apresentam melhores resultados em comparação com os que ficam em maturação até o dia seguinte (dia 1). Sendo que é esperado que a ICSI realizada em apenas quatro óvulos MII do final do dia 0 poderia resultar em um blastocisto adicional ao ciclo, enquanto a ICSI precisaria ser realizada em 15 óvulos inicialmente imaturos que amadurecem no dia 1 para ter um blastocisto adicional.

Foi demonstrado também que o aumento no tempo de incubação e cultura in vitro entre a recuperação dos óvulos até o amadurecimento para MII e ICSI, particularmente acima de 8 horas, pode levar a resultados piores devido a envelhecimento do óvulo.

Mas afinal, vale ou não a pena esperar os óvulos amadurecerem para injetar?
A resposta é: depende do caso. O mais importante para alcançar o sucesso no tratamento é individualizar cada situação, considerar todos os fatores e discutir com seu médico e embriologista o que pode ser mais benéfico para melhorar as chances de sucesso.
Rafaela Aguiar, coordenadora da embriologia do CITI Hinode.

Referências:
Mandelbaum RS, Awadalla MS, Smith MB, Violette CJ, Klooster BL, Danis RB, McGinnis LK, Ho JR, Bendikson KA, Paulson RJ, Ahmady A. Developmental potential of immature human oocytes aspirated after controlled ovarian stimulation. J Assist Reprod Genet. 2021

Shani AK, Haham LM, Balakier H, Kuznyetsova I, Bashar S, Day EN, Librach CL. The developmental potential of mature oocytes derived from rescue in vitro maturation. Fertil Steril. 2023
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