Março Amarelo – Conscientização da Endometriose

26 mar, 2021

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cerca de 10% da população feminina brasileira é afetada pela endometriose. Estima-se que cerca de 7 milhões de mulheres, no Brasil, tem a doença (dados de 2019). A Endometriose é considerada a grande ameaça as mulheres no século 21.

Para a vice -presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE)  a demora do diagnóstico da doença é comum , mas costuma estar associado ao fato de que muitas mulheres, mesmo sofrendo, protelam a ida ao médico, por acreditarem que as cólicas menstruais são normais.

Estamos no mês de março, que é o mês Mundial da conscientização sobre a Endometriose, por isso, muitos canais vinculam propagandas sobre a Campanha  Março Amarelo alertando sobre a doença.

A endometriose é uma doença inflamatória crônica,   condição essa que ocorre em mulheres   na idade reprodutiva . Além de causar dor, pode também reduzir a fertilidade.  Apesar de muitas teorias existirem sobre o desenvolvimento da endometriose a mais geralmente aceitada é a de que pode ter iniciado por causa do fluxo menstrual retrógrado através das trompas de falópio.

A susceptibilidade individual para endometriose, entretanto, é influenciado por fatores genéticos, anatômicos, endócrinos e ambientais. O diagnóstico padrão é preferencialmente por laparoscopia, incluindo a verificação histológica pela biópsia de lesões suspeitas. A endometriose pode existir de várias formas desde alguns poucos locais na região pélvica como até lesões fora da pelve. A classificação mais usada pela ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva), publicada pela primeira vez em 1979 e revisadas duas vezes desde então, baseia-se em um sistema de score(pontos) que leva em consideração a localização, o tamanho das lesões e extensão das adesões e é definida em 4 classes: mínima, suave, moderada e severa.

Entre mulheres com endometriose mínima/suave, aproximadamente 50% serão capazes de engravidar sem tratamento, enquanto que outras com a doença moderada terão somente 25% de chance de conceber espontaneamente e poucas gravidezes ocorrem nos casos de doença severa. Na verdade, a taxa de gravidez espontânea é comparável entre mulheres com endometriose mínima/suave e mulheres com infertilidade sem causa aparente, indicando que a endometriose mínima/suave pode ter um efeito modesto na fertilidade.

Possíveis causas de redução da fertilidade em mulheres com endometriose são as adesões, inflamação intraperitoneal crônica, luteinização ininterrupta do folículo,  efeitos na fase lútea , resistência a progesterona, efeitos prejudiciais no espermatozoide, anticorpos anti-endométrio, motilidade disfuncional uterotubal.

Por muitos anos permaneceu pouco claro se essa classificação da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) teria algum significado no prognóstico com relação ao potencial feminino de fertilidade. Uma classificação mais atual é o Índice de Fertilidade Endometriose (EFI : ENDOMETRIOSIS FERTILITY INDEX) classificação essa  que combina o sistema de classificação do ASRM com adição das informações pós cirurgia .

O EFI pontua de zero a 10 pontos e o resultado dessa pontuação indica os resultados subsequentes de não tratamento com FIV. Depois de 3 anos, aquelas pacientes com um score de 0-3 tem somente 10% de probabilidade de ficar grávida enquanto que aquelas com score mais alto de 9-10 pontos tem aproximadamente 75% de taxa de sucesso.

A média estimada da endometriose em estudos baseado na população varia de 0,8% a 6%, entretanto nas mulheres sub-férteis a prevalência parece ser consideravelmente alta, variando de 20% a 50%, mas com uma significante variação ao longo dos períodos e da idade da paciente. Em um estudo coorte grande com mulheres em idade reprodutiva, o risco de infertilidade pode aumentar em até duas vezes em mulheres com <de 35 anos com endometriose se compararmos com mulheres sem endometriose.

As causas da infertilidade em uma mulher com endometriose podem variar de distorções anatômicas devido a adesão e fibroses até anormalidades endócrinas e distúrbios imunológicos. Em alguns casos, vários distúrbios patofisiológicos parecem interagir através de mecanismos ainda não totalmente compreendidos. O tratamento da endometriose associada a infertilidade se baseia em 3 modalidades: tratamento médico, cirurgia e fertilização in vitro. A escolha do tipo de tratamento deve ser realizada com a ajuda de um médico especialista em medicina reprodutiva e laparoscopia para que se possa definir a melhor estratégia para um tratamento individualizado, pois cada caso é um caso.

Os benefícios do tratamento medicamentoso antes ou depois da cirurgia é incerto, na teoria a supressão da endometriose antes da cirurgia pode reduzir a inflamação e ajudar a remover as lesões, mas também pode fazer com que focos de endometriose menores não sejam visíveis. Das técnicas de reprodução assistida a inseminação intrauterina possui um efeito modesto quando utilizada em pacientes com endometriose, já a fertilização in vitro é uma opção bem sucedida de tratamento com resultados comparáveis com outras causas de infertilidade.

A endometriose pode afetar a implantação. As taxas de sucesso nos tratamentos de reprodução assistida (ART) são diferentes se levarmos em conta o diagnóstico da infertilidade, no caso da endometriose a taxa de sucesso fica em torno de 26,4%, mas muito se tem realizado para melhorar a janela implantatória ajustando o momento ideal para criar um endométrio mais receptivo  para a transferência embrionária tem sido realizado .

 

Ivana Rippel Hauer

 

 

 

Bibliografias utilizadas :

 

Fonte : Ministério da Saúde – Anvisa

 

Site da Associação Americana de Reprodução Assistida ( ASRM)

 

Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica Volume 96, Issue 6 p. 659-667 Endometriosis-associated infertility : aspects of paths physiological mechanisms and treatment options. https://doi.org/10.1111/aogs.130822019 Jun 1;104(6):1871-1886.  HTTPS://doi: 10.1210/jc.2018-01869.

Genetics and Epigenetics of Infertility and Treatments on Outcomes. Margareta D Pisarska 1 2Jessica L Chan 1Kate Lawrenson 1Tania L Gonzalez 1Erica T Wang 1 2

 

 

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