Outubro rosa e a preservação da fertilidade em pacientes com câncer

20 out, 2020

 O que é o outubro Rosa e qual a sua importância?

A campanha do Outubro Rosa foi desenvolvida para conscientizar a população da importância da prevenção do câncer de mama e do seu diagnóstico precoce. Segundo a OMS o câncer de mama é o câncer que mais acomete e mais mata mulheres no mundo (1). Como esta doença é multifatorial, diversos fatores ambientais (como uma alimentação não saudável e o sedentarismo) e genéticos aumentam a sua incidência. Desta forma, o conhecimento do que poderia aumentar a probabilidade de termos câncer de mama, nos permite decidir pela nossa própria saúde ao modificarmos hábitos do nosso dia-a-dia. Além disso, é preciso que as mulheres tenham acesso e façam exames periódicos para que haja de fato um diagnóstico precoce do câncer de mama e o tratamento seja desta forma, eficaz.

 

A Fertilidade das mulheres com câncer

Certos tratamentos para o câncer, como a quimioterapia e a radioterapia, podem levar algumas mulheres à infertilidade permanente devido à distúrbios hormonais ou ao efeito tóxico dos medicamentos nos gametas.

É importante de ressaltar que mulheres abaixo de 40 anos diagnosticadas com câncer de mama, tem até 10x menos risco de morrer do que mulheres a partir dos 60 anos (2). Portanto, mulheres diagnosticadas com câncer devem ser esclarecidas antes de iniciar o tratamento da existência do risco de não poderem ter filhos naturalmente após o câncer. O planejamento familiar deve ser levado em conta na decisão da melhor conduta, sendo discutida com a equipe oncológica e com o médico especialista em reprodução, evitando efeitos não desejados em ambos tratamentos. Aqui no Brasil o tratamento para o câncer demora um certo período a ser iniciado devido à aprovação dos planos de saude, sendo que a preservação da fertilidade poderia ser realizada neste período sem prejudicar o início da terapia para o câncer.

Opções de preservação da fertilidade em mulheres com câncer

Diversas alternativas estão disponíveis e são indicadas em cada caso, porém é bom ter em mente que TODAS as formas de preservação da fertilidade não representam uma garantia de uma gestação posterior e sim, aumentam as chances para que isso ocorra.

O congelamento de óvulos ou embriões é o procedimento mais indicado para preservar a fertilidade. Em ambos, a paciente passará por uma estimulação ovariana para produzir uma maior quantidade de óvulos e aumentar as suas chances de sucesso posteriores. O tempo médio para este procedimento é de 10 à 14 dias, porém todo o tratamento pode levar de 2 à 6 semanas (3).

Caso opte pelo congelamento de óvulos, após a captação dos óvulos maduros (retirada do ovário) eles são congelados em dispositivos e armazenados em nitrogênio líquido. Esse procedimento permite que permaneçam viáveis por um tempo indeterminado e possam ser descongelados em um futuro para serem fertilizados com o sêmen que desejar, dando mais autonomia à paciente. Esta técnica depende do número e qualidade dos óvulos, sendo ambos afetados negativamente pela idade da paciente. A taxa de sobrevivência dos óvulos após serem descongelados está em torno de 85% e estima-se que sejam necessários 12 óvulos para se obter uma gestação. Em algumas situações, como nos casos onde há risco do câncer ser estimulado pelos hormônios utilizados no tratamento, poderia ser indicada a maturação in vitro de oócitos. Nesta técnica, os óvulos são coletados imaturos do ovário, sem haver necessidade de estímulo hormonal prévio. Neste caso, a taxa de sucesso é mais baixa devido ao fato de que os óvulos precisarão ser maturados em laboratório antes de serem fertilizados, sendo considerada uma técnica ainda experimental.

Já o congelamento de embriões difere do de óvulos principalmente pelo fato que a fertilização ocorre antes do congelamento, preservando o embrião do casal. Este ponto deve ser avaliado com cautela pela paciente, pois não daria a opção de fertilizar os óvulos com outro sêmen posteriormente. A idade da mulher é o fator que mais afeta as chances de gestação, onde quanto mais jovem for a idade na coleta dos óvulos, melhor será o potencial destes embriões. A qualidade dos embriões irá afetar a sobrevivência após o descongelamento, e embora seja raro, alguns podem não sobreviver à este processo.

Além destas acima, o congelamento de tecido ovariano é uma alternativa ainda experimental de preservação da fertilidade no Brasil, mas que vem mostrando resultados promissores. Para esta técnica, são retirados e congelados fragmentos do ovário que contém células germinativas, sem necessitar de prévia estimulação ovariana e não interferindo no tempo de início do tratamento. Após o tratamento do câncer, os fragmentos são descongelados e transplantados à paciente para que volte novamente à atividade. Esta técnica poderia ser utilizada para mulheres diagnosticadas com câncer antes da puberdade, sendo que a função hormonal do ovário também seria recuperada.

Por Letícia Arruda

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Referências

  1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. International Agency for Research on Cancer. Globocan. Acesso em 05/02/2020.
  1. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (Brasil). Atlas da Mortalidade.Acesso em: 06/02/2020.
    1. Reda S. Hussein; Zaraq Khan; Yulian Zhao;  Fertility Preservation in Women: Indications and Options for Therapy; REVIEW|VOLUME 95, ISSUE 4, P770-783, APRIL 01, 2020