Preservação de Fertilidade Feminina – Preservação Social

20 out, 2020

As técnicas de Reprodução Assistida cada vez mais estão disponíveis com protocolos que individualizam os tratamentos relacionados com à infertilidade. A criopreservação de gametas (óvulos e espermatozoides), embriões, tecidos ovarianos e testiculares estão mais eficientes, fazendo com que não somente os pacientes que estão em tratamento de infertilidade possam se beneficiar dessas técnicas, mas também aquelas pessoas que estejam em tratamentos oncológicos que poderão interferir na sua fertilidade (tema que será abordado em outro artigo).

Na correria do dia a dia, a preocupação com a carreira, a ausência de um parceiro(a) faz com que homens e mulheres adiem o desejo de ter filhos, a preservação social (em inglês: Social Freezing) surgiu como uma alternativa para muitas pessoas que se encontram nessa situação.

A preservação da fertilidade é um processo que visa proteger óvulos, espermatozoides ou tecidos reprodutivos para que possam ser utilizados mais tarde, possibilitando que homens e mulheres tenham seus filhos biológicos no futuro. Iremos abordar nesse artigo a importância da preservação da fertilidade feminina.

O relógio biológico, que muitas de nós sempre ouviu falar, não espera, não pára enquanto decidimos sobre nossas prioridades: carreira, liberdade, segurança financeira, parceiro ideal. Com isso, muitas de nós nos deparamos com decisões que até pouco tempo atrás nem sabíamos que existia: preservar fertilidade ou não, congelar óvulos ou não, congelar embriões ou não. O que fazer nessa hora? Procurar informações no Dr Google? Com as amigas? Seguir no instagram aquela celebridade que congelou seus óvulos?

O primeiro passo é procurar o ginecologista ou médico da área de reprodução humana para que ele forneça as informações quanto as opções de preservação de fertilidade, quais os problemas relacionados à criopreservação depois da preservação, quais são os tratamentos de fertilidade e de infertilidade, qual o melhor protocolo de estimulação ovariana, quais os riscos à saúde essa estimulação pode causar, qual  quantidade de óvulos é considerada ideal, qual a taxa de sobrevivência desses óvulos, quais as taxas de sucesso (bebê em casa) posso esperar, até quanto tempo posso manter meus óvulos congelados, qual protocolo de criopreservação será utilizado? Todas essas questões devem ser sanadas pelo médico antes do início do tratamento.

A paciente deve ser testada antes de iniciar a preservação da fertilidade quanto à sua reserva ovariana para predizer se a resposta à estimulação será alta ou baixa. Fatores como idade, níveis de AMH (hormônio anti mulleriano), realização de testes bioquímicos basais como FSH, INIBINA B ajudarão. Testes biofísicos como contagem de folículos antrais podem ajudar na compreensão da possibilidade de termos uma resposta ovariana pobre ou ausente.  O volume ovariano também pode indicar baixa reserva.  Esses exames podem ajudar nas tomadas de decisões. Exames sorológicos e exames ultrassonográficos também deverão ser realizados.

A técnica mais utilizada atualmente para o congelamento de óvulos é a vitrificação, um tipo de congelamento ultrarápido e que implica na solidificação em estado vítreo de uma solução líquida por meio de uma elevação extrema da viscosidade quando resfriada em baixas temperaturas.

Após coleta dos óvulos, como eles ainda estão envoltos por uma camada de células que são as células cumulus-corona, é necessário denudar, processo de limpa-los antes do congelamento. Essa denudação ocorre umas 2 horas depois da coleta e o óvulo poderá ser criopreservado depois. Nesse momento a morfologia dos óvulos é avaliada, assim como em qual estágio de maturação ele se encontra, se está maduro ou como chamamos em Metáfase II que é quando visualizamos a presença do corpúsculo polar, se ainda se encontra na fase de Prófase I, ou seja, ainda imaturo e com a presença da vesícula germinativa ou se na fase de Metáfase I, também imaturo mas já sem visualizarmos a vesícula germinativa e nem o corpúsculo polar.

Os óvulos diferentemente dos embriões possuem características que podem comprometer a sua sobrevida. Devido ao seu tamanho são mais sensíveis à criopreservação quando comparados aos espermatozoides e embriões. A técnica de vitrificação tem demonstrado melhores resultados no descongelamento e com boas  taxas de fertilização e gravidez.

Um problema crescente no mundo é que cada vez mais tarde as famílias estão se formando. No Brasil, aonde vivemos, de acordo com o IBGE, na última década diminuiu a proporção de mães com menos de 30 anos e aumentou o número de nascimentos em mulheres com idade entre 35-39 anos (56%).

Estudos tem demonstrado insuficientes conhecimentos  sobre o declínio do potencial de fertilidade relacionado à idade, o que causa muito estresse nas mulheres que ainda não encontraram um parceiro para formar uma família, em contra partida a consciência do congelamento de um óvulo proativo é limitado e existe uma crença super otimista de que a fertilização in vitro ajudará a superar a infertilidade relacionada com a idade, criando na população uma consciência sobre o declínio da fertilidade relacionado a idade , e elegendo o congelamento de óvulos como uma possibilidade a mais de proteger a fertilidade, sendo também uma possibilidade  nao só de se ter um filho mas também de aumentar a chance de  ter uma segunda ou terceira criança  para aqueles  casais que tiveram seu primeiro filho mais tarde.

Mas uma pergunta recorrente é: quando se deve fazer o congelamento? O tempo biológico óptimo seria em torno dos 20 anos, momento onde a fertilidade está no seu ápice, mas pode não ter um custo benefício em termos de baixo uso. Em um estudo nos EUA um modelo foi construído para determinar o custo benefício de se congelar óvulos se compararmos com a ação de não congelar nas idade entre 25-40 anos. Neste modelo, um cálculo matemático foi feito relativo a probabilidade de se ter um nascido vivo sete anos após a decisão de se congelaria ou não os óvulos.

Foi observado que a maior probabilidade de ocorrer gravidez acontecia quando o congelamento dos óvulos se dava nas pacientes com > de 34 anos de idade. Entretanto devemos tomar por base que o congelamento de óvulos deve ser baseada na avaliação individual.

Outra questão importante é: quantos óvulos devemos preservar para que tenhamos pelo menos uma criança?  É desafiador determinar o número ideal de óvulos, já que dependemos de vários fatores, incluindo a idade materna, a saúde, a reserva ovariana, as metas reprodutivas individais e também a saúde paterna. Nenhum número pode oferecer uma garantia. Muitas clínicas recomendam cerca de 20 óvulos, o que para a maioria das mulheres significa passar pelo processo de estímulação e coleta mais de uma vez.

Um modelo americano de previsão, baseado nos tratamentos de FIV/ICSI estimou que aproximadamente 20 óvulos são necessários para ter cerca de 75% de probabilidade de se obter uma criança para mulheres com menos de 38 anos. Esse modelo também mostrou que a chance de sucesso é altamente idade dependente e confirma que a tentativa de preservação de fertilidade para mulheres acima dos 40 anos é improvável que se obtenha sucesso. Ver tabela abaixo:

Informação é tudo e buscar respostas para suas dúvidas e angústias é o primeiro passo para a decisão de se congelar óvulos. Ao responsável pelas informações e esclarecimentos solicitados, cabe a missão de com seriedade traçar o caminho a ser escolhido para trilhar.

 

Texto Elaborado por:

Ivana Rippel Hauer

 

#congelamento de óulos #preservação da fertilidade #vitrificação de óvulos

 

 

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

– IBGE

 

– Social freezing of oocytes: a means to take control of your fertility UPSALA JOURNAL OF MEDICAL SCIENCES

2020, VOL. 125, NO. 2, 95–98 https://doi.org/10.1080/03009734.2019.1707332

 

– https://www.eshre.eu/FFPguideline