Transferência de 1 ou mais embriões?

09 set, 2021

Em um passado não muito distante, o número de embriões a serem transferidos podiam exceder o número de 4, se assim o casal desejasse. Com isso, o número de gravidezes múltiplas era alto, o que poderia ser classificado como um sucesso para o casal e para a clínica, trazia também muitos problemas de saúde  para a mulher como partos prematuros, bebês abaixo do peso que necessitavam de hospitalização por meses, morte prematura etc etc , resultando em custos hospitalares, uma frustração e muita dor para os casais.

 

O número exagerado de embriões transferidos também estava relacionado com a  falta de conhecimento técnico , falta de equipamentos capazes de manter a qualidade embrionária em um cultivo mais extenso , meios de cultura para cultivo prolongado , ausência de técnicas como a biópsia pré implantatória , um melhor conhecimento sobre o endométrio e sua receptividade  ,  conhecimento esse que hoje temos um pouco mais, sobre qual a melhor fase embrionária para se transferir .

 

No final dos anos 90 , ocorreram significantes melhoras nas taxas de sucesso de gravidez alterando o mantra de que a transferência de um número alto de embriões era necessária para se obter taxas de gravidezes aceitáveis. Em 1999, Gerris e colaboradores foram os primeiros a avaliar a transferência eletiva de um único embrião ( eSET : Elective single embryo transfer ) que é a transferência intencional de apenas um embrião quando existem vários embriões de estágio e qualidades apropriadas  .

 

A extensão do tempo de cultura embrionária de 2 a 3 dias para 5 dias ( estágio de blastocisto) em que o embrião possui um potencial de implantação mais alto para ser selecionado para a transferência também foram de grande utilidade para que pudéssemos repensar o número de embriões a serem transferidos . Melhoras nas taxas de implantação foram observadas quando se realizou a transferência única de embriões na fase de blastocisto quando comparado com as taxas de gravidez de embriões únicos ou duplos no estágio de clivagem ( dia 2 ou dia 3).

 

A transferência de um único embrião requer a escolha de um embrião com a melhor chance de implantar e progredir para o nascimento . Mesmo a transferência de um embrião sabidamente euploide devido a biópsia embrionária , não garante o sucesso que é : bebê em casa. Tradicionalmente , nós embriologistas , selecionamos o embrião para a transferência baseado nas características morfológicas  , embora isso não seja errado , aproximadamente 20% dos embriões de dia 5 transferidos baseados nas características morfológicas podem ser aneuploides.

 

A transferência de um único embrião biopsiado e testado euploide pode superar o declinio do sucesso de implantação e gravidez relacionado a idade. A utilização das ferramentas de biópsia pré implantacional , podem ser  sem dúvida alguma mais um utensílio para ajudar na seleção embrionária  , ajudando principalmente pacientes em que a idade avançada pode ser um empecilho para a obtenção da gravidez , evitando a transferência de múltiplos embriões o que aumentaria os riscos de uma gravidez múltipla. Inicialmente , as candidatas a utilização da transferência de um único embrião eram as pacientes com idades entre 34-36 anos com um número grande de embriões de boa qualidade.

 

A utilização da transferência de embrião único demonstrou uma redução nas gestações múltiplas e melhora nos resultados neonatais sem comprometer as taxas de nascidos vivos. Contudo , apesar dos benefícios estarem claros , existe os desafios de se implementar um protocolo efetivo de eSET e a escolha adequada das pacientes que se beneficiarÃo dessa política de transferência de embrião único. A idade feminina está fortemente relacionada ao sucesso na FIV e deve ser ponderada para determinar a utilizaçÃo da transferência de embrião único , bem como para que idade a eSET deveria ser oferecida.

 

Com o intuito de assegurar a saúde da paciente e sua prole , entidades como ASRM ( SOCIEDADE AMERICANA DE MEDICINA REPRODUTIVA , ESHRE ( SOCIEDADE EUROPÉIA DE REPRODUÇÃO HUMANA , SBRA ( Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida ) ANVISA ( Agência nacional de vigilância sanitária do Brasil ) , CFM ( conselho federal de medicina ) entre outros passaram a buscar transmitir mais informações e dados para  diminuir o número de transferências de mais de 2 embriões , o CFM de tempos em tempos atualiza e estipula o número ideal a ser transferido conforme a idade da mulher .

 

A nova Resolução do Conselho Federal de Medicina ( CFM ) n . 2.294 , de 27 de maio de 2021  , vigente a partir de maio deste ano , estipula que “o número de embriões a serem transferidos de acordo com a idade é o seguinte : a) mulheres com até 37 anos : até 2 embriões , b) mulheres com mais de 37 anos até 03 embriões , c) em caso de embriões euploides ao diagnóstico genético : até 02 embriões , independente da idade e  d) nas situações de doação de oócitos , considera-se a idade da doadora no momento de sua coleta .  De acordo com o CFM , em caso de gravidez múltipla , decorrente do uso de técnicas de reprodução assistida , é proibida a utilização de procedimento que visem a redução embrionária .

 

Nas últimas 3 décadas nós temos observado um aumento nas qualidades e padronização dos tratamentos para  infertilidade. A era das taxas baixas de nascidos vivos e da prática de rotina das transferências múltiplas embrionárias , estão cada vez mais no passado. Os avanços na criopreservação de embriões , na extensão da cultura embrionária com a seleção de blastocisto , utilização da biópsia pré-embrionária tem facilitado a utilização da transferência de embrião único sem prejuízo aos resultados. Mas cada vez caminhamos mais para a utilização e fortalecimento da transferência de embrião único .A implementação de um programa de transferencia de embrião único deve combinar a observação do potencial de implantação de cada embrião de acordo com a sua graduação .

 

#embriõesd3 #embriõesd5 # transferênciaembriãoúnico

Lee et al. Contraception and Reproductive Medicine (2016) 1:11DOI 10.1186/s40834-016-0023-4 Elective single embryo transfer- the power of one

Ivana Rippel Hauer