Vamos falar sobre morfologia embrionária?

02 jul, 2020

A morfologia embrionária se refere a forma ou aparência dos embriões e são características visuais utilizadas para classificá-los de acordo com a sua qualidade. Essas classificações são fundamentais para a tomada de decisão sobre a seleção de qual  embrião será transferido ou congelado, por exemplo.

Os embriões humanos podem se desenvolver de maneira muito diferente um do outro. Mesmo em um único ciclo, os embriões dentro de um grupo raramente apresentam características uniformes. A partir da fecundação do oócito com o espermatozoide o zigoto é formado e começa a sofrer divisões celulares, originando o embrião. Com a observação de diversos embriões em desenvolvimento no laboratório desde a fertilização até o momento da transferência, foi possível associar características da morfologia com a qualidade do embrião, como o número de células em cada dia de cultivo e a taxa de fragmentação.

Assim, foram desenvolvidos sistemas de classificação de embriões nos quais diversos parâmetros são expressos em uma escala de número ou letra, como descrito a seguir. Um grande número de estudos realizados nas últimas três décadas de fertilização in vitro estabeleceu uma relação clara entre a morfologia do embrião e a velocidade de desenvolvimento e o resultado clínico dos ciclos de fertilização in vitro.

Quanto melhor é essa classificação, maiores são as chances deste embrião implantar e se tornar um feto. Porém é importante de lembrar que um embrião é muito mais que a morfologia. Por exemplo, mesmo um embrião com uma morfologia embrionária excelente, pode não ter o número de cromossomos normal, o que o torna inviável. Por isso, outras técnicas, como a biópsia de embrião, são associadas para melhorar este sistema de avaliação.

Além da genética, a morfologia embrionária não é capaz de avaliar outros parâmetros importantes, como o metabolismo embrionário e a função mitocondrial. Por esse motivo que embora a classificação da morfologia embrionária forneça um importante valor preditivo do potencial deste embrião em implantar, ela não é capaz de garantir que o melhor embrião vire uma gestação.

 

Como se avalia a morfologia?

A fertilização e todos os outros estágios de crescimento são avaliados sob um microscópio especializado pelos embriologistas, que na maioria das vezes também utilizam fotos para documentação. Também é possível fazer essa avaliação através de sistemas de time-lapse (colocar link) que são acoplados às incubadoras de cultivo.  Esses sistemas tiram diversas fotos dos embriões em curtos intervalos de tempo durante o cultivo, permitindo uma avaliação contínua do desenvolvimento.

Um embrião de boa qualidade é aquele que se encontra no estágio adequado de evolução, ou seja, apresenta o número de células esperados além de desenvolvimento compatível com o o dia de cultivo, além de uma fragmentação menor que 25% (graus A e B).

 

Avaliações da morfologia embrionária

  1. Taxa de fragmentação

 

As primeiras células (ou blastômeros) do embrião estão apenas frouxamente conectadas e esses blastômeros podem estar associados a pequenos restos de material celular chamados fragmentos. O processo de fragmentação durante a divisão é muito comum e é considerado normal na maioria dos embriões. No entanto, em alguns embriões, a fragmentação pode estar aumentada e inibir o crescimento adicional. Portanto, a taca fragmentação pode ser outro indicador da qualidade do embrião e do potencial de desenvolvimento.

 

A classificação da fragmentação varia, mas é frequentemente classificada em 4 graus:

 

Grau A ou I: fragmentação < 10%;

Grau B ou II: fragmentação de 10-25%;

Grau C ou III: fragmentação de 25-50%;

Grau D ou IV: fragmentação >50%

 

 

  1. Características esperadas durante os dias de desenvolvimento embrionário

 

  • Dia 1: Número de Pró-núcleos e Corpúsculos polares e primeira divisão celular

O óvulo normalmente fertilizado (zigoto) deve ter dois pro-núcleos, um derivado do espermatozoide e outro do óvulo. Esta avaliação é realizada em torno de 18h após a fertilização e também avalia a simetria e dimensão dos pró-núcleos além do número e localização dos nucléolos e aparência dos citoplasma (interior do embrião). Após a maturação e fertilização, o zigoto fertilizado também terá duas pequenas células chamadas corpúsculos polares. Portanto,  o zigoto é considerado anormal se o número de pro-núcleos e corpos for menor ou maior que dois.

A segunda classificação geralmente ocorre entre 24-28 horas após a fertilização, quando ocorre a primeira clivagem, sendo avaliados o número e simetria dos blastômeros (células) e o grau de fragmentação celular. Neste estágio é considerado um bom embrião aquele que se apresenta simétrico e com baixa taxa de fragmentação.

 

  • Dia 3: embrião em estágio de clivagem com 8 células

Assim, a classificação até o 3º dia de vida embrionária é feita com um número (número de células) e uma letra ou número romano (grau de fragmentação).  Ex.: embrião de terceiro dia 8 A, ou 8 I, embrião de excelente qualidade, com 8 células, sem fragmentação. Pode ser avaliada também a morfologia do citoplasma dos blastômeros, a presença de células multinucleadas, e a espessura da zona pelúcida.

Os estudos indicam que a taxa de fragmentação maior que 25% (grau III ou C) está associada a menores taxas de gestação, sendo que os graus de fragmentação A e B são semelhantes neste sentido. Outros citam que embriões com taxa de fragmentação maior que 50% (grau IV ou D) estão associados à altas taxas de alterações genéticas.

 

  1. Dia 5, 6 e 7: Classificação de blastocistos

 

No quinto dia de desenvolvimento em laboratório, o embrião deve formar o que chamamos de blastocisto. Neste estágio o embrião apresenta  uma cavidade cheia de líquido (blastocele), cercado por uma única camada de células chamada trofectoderma (ou trofoblasto) e um aglomerado de células no interior, chamado massa celular interna ou embrioblasto. A massa celular interna ou ICM posteriormente se desenvolve no feto enquanto o trofectoderma formará a placenta. O blastocisto é classificado de acordo com seu estágio de desenvolvimento ou a sua expansão, enquanto o trofectoderma e os componentes de massa celular interna do são classificados separadamente com base em sua aparência geral, número de células e adesão. A classificação mais utilizada nos laboratórios é a proposta por Garder em 2001, descrita abaixo.

Segundo ela, se classifica a MCI e trofectoderma do melhor para o pior de A à C e o grau de expansão do menor (1) ao maior (4). Podem ser acrescentados mais dois estágios, onde o 5 seria o embrião que está eclodindo e o 6 o totalmente fora da zona pelúcida (eclodido).

 

Texto elaborado por Letícia Arruda