Vitamina D e Fertilidade: um detalhe que faz diferença

05 maio, 2025

A vitamina D, amplamente reconhecida por sua importância na saúde óssea, tem se mostrado igualmente relevante para a saúde reprodutiva. Trata-se de um hormônio esteroide cujos receptores (VDR) estão presentes em diversos tecidos, incluindo ovários, testículos, endométrio e placenta. Essa ampla distribuição permite sua atuação direta na regulação hormonal, no desenvolvimento dos gametas e na receptividade endometrial — elementos essenciais para a ovulação, fertilização e implantação embrionária (Du et al., 2005; Wagner et al., 2012).

Nas mulheres, a deficiência de vitamina D está associada à redução da qualidade folicular e a alterações no endométrio, fatores que comprometem os resultados tanto em ciclos naturais quanto em tratamentos de fertilização in vitro (FIV). Em especial, mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) frequentemente apresentam níveis baixos dessa vitamina. Quando suplementadas, podem apresentar melhora significativa na regularidade menstrual, no perfil hormonal e na resposta ovulatória (Pal et al., 2016; Mackawy et al., 2015).

Nos homens, a vitamina D também desempenha um papel relevante na fertilidade. Estudos mostram sua associação com maior motilidade espermática, melhor integridade do DNA espermático e, em alguns casos, elevação dos níveis de testosterona. A vitamina D atua na regulação do cálcio intracelular nos espermatozoides — fundamental para a movimentação — além de exercer ação antioxidante e anti-inflamatória, contribuindo para a preservação da qualidade seminal (Blomberg Jensen et al., 2011; Pilz et al., 2011; Martinez et al., 2018).

A principal fonte de vitamina D é a exposição solar, responsável por até 90% da sua produção endógena. Recomenda-se de 15 a 30 minutos diários de exposição ao sol, preferencialmente entre 10h e 15h, com áreas de pele descobertas como braços e pernas (Holick, 2007). Embora alimentos como peixes gordurosos, gema de ovo e laticínios fortificados possam complementar a ingestão, dificilmente são suficientes para manter níveis ideais (Cashman et al., 2016). Por isso, a atenção à forma de obtenção da vitamina D é essencial na prática clínica, especialmente no contexto da saúde reprodutiva (Pludowski et al., 2018; Bellido et al., 2019).

A fertilidade é multifatorial, e pequenos ajustes — como garantir níveis adequados de vitamina D — podem representar a diferença entre um ciclo sem sucesso e uma gestação bem-sucedida. Considerando sua influência em processos como ovulação, receptividade endometrial, qualidade dos gametas e equilíbrio hormonal, a vitamina D deve ser valorizada como um componente importante na avaliação da saúde reprodutiva. Por isso, sua verificação e, quando necessário, a suplementação individualizada são medidas recomendadas, sempre com orientação profissional.

 

Layana Freitas Souza

Biomédica Embriologista

CRBM-2 17901

Referências

Blomberg Jensen M., et al. (2011). Vitamin D is positively associated with sperm motility and increases intracellular calcium in human spermatozoa. Human Reproduction, 26(6), 1307–1317.

Du H., et al. (2005). Direct regulation of HOXA10 by 1,25-dihydroxyvitamin D₃ in endometrial cells. Molecular Endocrinology, 19(9), 2222–2233.

Pal L., et al. (2016). Vitamin D status relates to reproductive outcome in women with polycystic ovary syndrome. J Clin Endocrinol Metab, 101(8), 3027–3035.

Pilz S., et al. (2011). Effect of vitamin D supplementation on testosterone levels in men. Hormone and Metabolic Research, 43(3), 223–225.

Holick MF. (2007). Vitamin D deficiency. New England Journal of Medicine, 357(3), 266–281.

Cashman KD., et al. (2016). Vitamin D deficiency in Europe: pandemic? The American Journal of Clinical Nutrition, 103(4), 1033–1044.

Pludowski P., et al. (2018). Vitamin D supplementation guidelines. Nutrients, 10(4), 510.

Wagner CL., et al. (2012). Vitamin D and pregnancy: an overview of the current literature. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 206(6), 272–282.

Mackawy AM., et al. (2015). Vitamin D and reproductive health: a comprehensive review of the literature. Journal of Endocrinology, 225(2), 1–10.

Martínez-González M., et al. (2018). Effect of vitamin D supplementation on sperm motility and morphology in men. Journal of Urology, 199(1), 198–205.

Pérez-López FR., et al. (2015). Vitamin D and women’s health: the need for adequate vitamin D status. Archives of Gynecology and Obstetrics, 292(4), 787–793.

Bellido C., et al. (2019). Effect of vitamin D supplementation in reproductive outcomes. Fertility and Sterility, 112(5), 895–900.