Criopreservação de oócitos e seus desafios
12 dez, 2022
Desde 1985 quando Rall e Fahy utilizaram a vitrificação em embriões murinos, esta técnica cresceu rapidamente. Conseqüentemente a vitrificação também passou a ser utilizada para a criopreservação de oócitos, com a primeira publicação em 1999 por Kuleshova et al. Embora algumas empresas anunciem 100% de sobrevivência para os oócitos humanos vitrificados, sabemos que em longo prazo este número não se sustenta. Muitas pacientes podem ter 100% de sobrevivência sem dúvida, mas considerar 100% de sobrevivência utilizando material biológico é algo praticamente impossível.
A criopreservação de oócitos apresenta alguns desafios, os oócitos sendo constituídos de apenas uma célula fazem com que não se tenha meio termo, ou é 0% ou 100% de sobrevivência daquele oócito especificamente.
A estratégia básica para vitrificar células e tecidos é aumentar a velocidade da condutividade térmica e diminuir a concentração dos crioprotetores para reduzir o potencial de toxicidade. Existem dois principais caminhos para se alcançar a vitrificação da água dentro da célula com mais eficiência: utilizar materiais que possuem rápida transferência de calor e usar recipiente especial (palheta) que permita o uso de pequenos volumes de crioprotetor contendo a célula para que possa ser congelada rapidamente. Existem três principais objetivos na criopreservação de oócitos: evitar a formação de cristais de gelo, evitar o efeito tóxico da solução crioprotetora e evitar choque osmótico.
Existem alguns motivos pelos quais temos uma taxa de sobrevivência menor do que a comparada à criopreservação de embriões. Necessariamente não tem uma ordem de importância, mas todos estes itens são relevantes para uma boa taxa de sobrevivência.
1- O volume celular é grande e a relação superfície celular/volume é muito pequena, conseqüentemente a desidratação celular é mais difícil.
2- O aumento da espessura da zona pelúcida e a liberação prematura de granulações corticais podem ocorrer durante o congelamento, entretanto este problema é facilmente superado com a realização do ICSI.
3- Os oócitos quando vão ser congelados estão em metafase II, com o sistema do fuso organizado. A lesão do fuso leva a dispersão dos cromossomos e a falha na fertilização ou a parada do seu desenvolvimento. Existe a necessidade de esperar um tempo de 2-3 horas após o descongelamento para realizar a ICSI, pois este tempo permite a repolarização adequada do fuso. A desorganização ou o desaparecimento do fuso meiótico pode causar aneuploidia ou poliploidias. Se o fuso se desintegrar, não ocorrerá a extrusão do corpúsculo polar e, logo, poliploidia (dois pronúcleos femininos e um masculino). Lesões menores causam aneuploidia.
4- A seleção dos oócitos para congelamento é muito difícil, exceto em caso de manifestações grosseiras de dismorfismo e heterogeneidade da morfologia dos oócitos (zona pelúcida espessa, granulosidade do citoplasma, aumento do espaço perivitelino ou fragmentação do primeiro corpúsculo polar). A inabilidade em predizer qual é o oócito de boa qualidade leva à dificuldade em demonstrar a capacidade do mesmo em se desenvolver e tornar se um bom embrião.
No início da criopreservação de oócitos colocava-se de seis até 10 oócitos por palheta. No entanto, observou-se que este era um número excessivo e que a taxa de sobrevivência poderia estar sendo prejudicada por este número de oócitos na mesma palheta. Atualmente a recomendação de modo geral é de no máximo três oócitos por palheta.
É importante os embriologistas seguirem as etapas descritas nos protocolos adequadamente, cuidando da temperatura do TS no momento do descongelamento, e temperatura ambiente durante o procedimento por exemplo. Outro fator que é simples, mas muito importante é que após a imersão da palheta com os oócitos, não retire a palheta do nitrogênio.
Com relação às palhetas, existem várias no mercado, algumas mais caras do que outras, a escolha vai variar de clinica para clinica. Sugiro, no entanto que se ocorrer uma mudança de marca da palheta sempre façam um teste comparativo prévio para confirmar que a sua taxa de sobrevivência não foi afetada pela troca da marca da palheta. Com relação a sistema aberto ou fechado das palhetas, acredito que a maioria das clínicas continue utilizando o sistema aberto, pois a velocidade de redução da temperatura está mais próxima ao necessário para uma boa sobrevivência dos oócitos. Embora já existam no mercado sistemas fechados eficientes. No entanto, não existe até o momento nenhuma publicação confirmando contaminação dentro de um tanque de embriões ou oócitos criopreservados.
Para finalizar, é importante ressaltar que os nascimentos até agora de criopreservação de oócitos não apresentaram aumento de incidência de cariótipos anormais ou de malformações congênitas, permitindo então a continuidade da utilização desta técnica. Procedimento este que está difundido em mais de 40 países espalhados por todos os continentes segundo Kuwayama (2016).
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