Dieta e fertilidade: impactos e benefícios.

22 ago, 2023

Nos últimos anos, a relação entre dieta e fertilidade tornou-se mais clara e houve um aumento perceptível do interesse científico acerca desse tema. Termos como “dieta pró-fertilidade” e “alimentos como remédio” começaram a circular e a busca de pacientes por nutricionistas especializados na área fez com que inúmeros centros de reprodução assistida incluíssem esses profissionais em suas equipes multidisciplinares (KELLOW et al., 2022; KOHIL et al., 2022).

O impacto que o estilo de vida pode causar nos resultados dos tratamentos de reprodução assistida (R.A.) já encontra-se bem esclarecido. Segundo Lakoma et al. (2023) a nutrição pode ter um efeito negativo ou positivo na fertilidade de homens e mulheres, dependendo de fatores quantitativos e propriedades qualitativas da dieta, como por exemplo, o conteúdo calórico de cada macronutriente (carboidratos, gordura e proteína).
Assim, fatores pró-inflamatórios como consumo excessivo de açúcares e gordura trans, sobrepeso e obesidade, além da ingestão acidental de alimentos contaminados com pesticidas e metais pesados, podem ter consequências negativas na qualidade dos gametas e, consequentemente, dos embriões (GASKINS et al., 2019).

Acredita-se que a inflamação é um dos mecanismos pelos quais a alimentação afeta a fertilidade, podendo levar a: interrupção da ciclicidade menstrual, falha na implantação, endometriose e distúrbios ovulatórios. Além disso, a inflamação pode ter um impacto negativo na qualidade espermática, fator chave para a subjacente infertilidade masculina. Algumas das alterações mais correlacionadas são aumento da fragmentação de DNA espermático e teratozoospermia (ALESI et al., 2022; CANDELA et al., 2021).

Entretanto, uma ingestão de micronutrientes e antioxidantes como ácido fólico, vitamina D e ômega-3, antes e durante o tratamento de R.A, reduz a inflamação e regula o metabolismo da glicose e da insulina, além de aumentar a capacidade do corpo de sintetizar, reparar e metilar o DNA e suprimir o estresse oxidativo, potencializando assim, o sucesso reprodutivo.

O benefício da ingestão dessas substâncias foi verificado em estudos com mulheres submetidas à fertilização in vitro (FIV) que consumiram tanto ácido fólico como vitamina D e apresentaram tais substâncias no fluido folicular. Nesse contexto, foi possível observar uma melhora da qualidade e maturação oocitária, assim como um aumento das taxas de implantação embrionária e gravidez clínica (GASKINS et al., 2014; OZKAN et al., 2010).

Em corroboração, estudos nos quais pacientes que aderiram ao padrão alimentar de alta ingestão de óleo vegetal, peixe, leguminosas e vegetais e baixa ingestão de ultraprocessados, conhecido como “dieta do mediterrâneo”, também apresentaram maior probabilidade de gravidez clínica e nascidos vivos (KARAYIANNIS et al., 2018; VUJKOVIC et al., 2010).

Portanto, partindo do ponto de vista nutricional, a adesão à uma dieta balanceada poderá influenciar em uma melhora do ambiente folicular e do fluido seminal, beneficiando o paciente. Dessa maneira, a identificação e o acompanhamento de fatores de estilo de vida “modificáveis” que podem impactar na fertilidade humana, como a dieta nutricional, são de suma importância para os indivíduos e para a saúde pública em um contexto geral.

Marília Lima de Brito
Embriologista do Centro de Reprodução Assistida do Ceará – Clínica Conceptus.

 

Referências:
Alesi S. et al. Anti-Inflammatory Diets in Fertility: An Evidence Review.
Nutrients. 2022. 14, 3914.
Candela, L. et al. Correlation among isolated teratozoospermia, sperm DNA fragmentation and markers of systemic inflammation in primary infertile men. PLoS ONE. 2021.16(6): e0251608.
Gaskins, A. J. et al. Dietary Patterns and Outcomes of Assisted Reproduction. Am J Obstet Gynecol. 2019. 220(6): 567.e1-567.e18.
Gaskins A. J. et al. Dietary folate and reproductive success among women undergoing assisted reproduction. Obstet Gynecol. 2014. 124:801–9.
Kellow, N. J. et al. The Effect of Dietary Patterns on Clinical
Pregnancy and Live Birth Outcomes in Men and Women Receiving Assisted Reproductive Technologies: A Systematic Review and Meta-Analysis. Adv. Nutr. 2022. 13, 857–874.
Kohil, A. et al. Female infertility and diet, is there a role for a personalized nutritional approach in assisted reproductive technologies? A Narrative Review. Front. Nutr. 9:927972. 2022.
Karayiannis, D. et al. Adherence to the Mediterranean diet and IVF success rate among non-obese women attempting fertility. Hum Reprod. 2018.
Lakoma, K.; Kukharuk, O.; Sliz, D. The Influence of Metabolic Factors and Diet on Fertility. Nutrients. 2023. 15, 1180.
Ozkan, S. et al. Replete vitamin D stores predict reproductive success following in vitro fertilization. Fertil Steril. 2010, 94:1314–9.
Vujkovic, M. et al. The preconception Mediterranean dietary pattern in couples undergoing in vitro fertilization/intracytoplasmic sperm injection treatment increases the chance of pregnancy. Fertil Steril. 2010. 94:2096–101.

 

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