Plano de Contingência: Falhas na Criopreservação

14 jan, 2025

A criopreservação é uma das técnicas de reprodução assistida altamente utilizada em centros de reprodução humana em todo o mundo. Essa consolidação da técnica de criopreservação deve-se ao aperfeiçoamento da técnica de vitrificação de oócitos e embriões, garantindo assim altas taxas de sobrevivência e nascidos vivos. Dessa forma, a criopreservação proporciona a garantia da preservação da fertilidade para pacientes oncológicas e pacientes que desejam postergar a maternidade.

Na rotina prática de um centro de reprodução humana muitos parâmetros de gestão da qualidade são exigidos pelos entidades regulatórias, visando garantir práticas mais seguras e imprescindíveis para evitar danos e erros. Visto que gametas e embriões podem permanecer criopreservados por longos períodos sem prejuízo a qualidade celular, a garantia da qualidade através de um sistema eficiente, faz com que o ambiente laboratorial tenha processos padronizados e instalações adequadas, como monitoramento de oxigênio na sala de criopreservação e do nível de nitrogênio líquido nos contêineres. Assim, a implementação de rigoroso controle de qualidade, com procedimentos de emergência 24 horas por dia e sistemas de alerta, se faz com gestão dos riscos, através de padronização dos processos e treinamento da equipe.

Devemos nos atentar a um fator importante na criopreservação de gametas e embriões, que é o risco de contaminação cruzada das amostras, onde a checagem das sorologias virais e bacterianas prévias são importantes. Ainda que não haja registros desse tipo de contaminação, a orientação é que cada tipo de sorologia positiva seja armazenada em containers específicos.

Os botijões de nitrogênio líquido devem estar intactos e devem manter o vácuo, pois qualquer movimento brusco pode causar dano estrutural, levando a perda do vácuo e consequente perda do nitrogênio líquido em curto período de tempo. Se esse botijão não estiver sendo monitorado, todas as amostras sofrerão dano irreversível e o prejuízo para cada paciente será extremamente impactante. Assim, sistema de detecção de nível de nitrogênio líquido através de alarmes sonoros ou remoto são extremamente necessários. Por isso, a escolha de equipamentos de boa qualidade, assim como fornecedores e insumos laboratoriais devem ser avaliados rigorosamente e os critérios devem ser estabelecidos por cada centro de reprodução assistida. Nesse sentido, a periodicidade das calibrações e as manutenções preventivas em todo equipamento envolvido nos processos de criopreservação e fertilização, devem estar atualizadas e devidamente funcionantes.

Para garantir o preenchimento adequado dos botijões com material biológico, botijões de reserva, sem amostra, são utilizados. Os mesmos devem ser suficientes para o abastecimento e utilização nos procedimentos até que o fornecedor reabasteça o estoque. Além desses, sugere-se manter botijões reserva que possam ser utilizados para armazenamento de amostras caso haja algum dano aos botijões em uso.

É sugerido que todo laboratório deve contar com pelo menos dois fornecedores de nitrogênio validados. Isso permite a garantia de abastecimento na falha de entrega de um dos fornecedores.

É importante criar um planejamento do abastecimento de nitrogênio para os períodos de emendas de feriados, em especial o final de ano. Nessas datas, algumas empresas deixam de funcionar e, é importante planejar o abastecimento de nitrogênio com antecedência.

A duração de um botijão de nitrogênio líquido depende do modelo e da garantia do fabricante. A validade deve ser acompanhada e os botijões serem substituídos após o término da mesma.

Os alarmes, uma vez conectados à telefonia e internet, devem contar com redes redundantes, ou seja, deve-se contar com redes independentes para que, caso uma esteja inoperante a outra assuma a sua função. A contingência da rede de internet deve ser realizada em conjunto com a equipe de TI da clínica.

Um plano de remoção de botijões em casos de emergência e desastres é recomendável para a segurança das amostras. Para tal, cada serviço pode definir os critérios de remoção de pessoas, equipamentos (incluindo os botijões e materiais biológicos) e documentos. Em casos de Evacuação Preventiva, a qual não há potencial de destruição, não há necessidade de remoção dos botijões. No entanto, em casos de Evacuação não-imediata, porém com potencial de destruição (por exemplo: foco de incêndio, alagamento eminente ou danos estruturais potenciais), os botijões podem ser removidos de acordo com a ordem estabelecida no planejamento de Emergências e Desastres. A rota de retirada dos mesmos e as pessoas responsáveis pela guarda deve ser estabelecida previamente pelo Diretor dos Laboratórios.

Os acidentes com o próprio nitrogênio pode causar lesões graves na pele, causar dano irreversível aos olhos, mucosas, nariz ou qualquer outro local que acometa o embriologista. Com o intuito de reduzir esse risco em potencial, equipamentos individual de segurança (EPIs) devem ser utilizados, como óculos de proteção e luvas criogênicas, durante a manipulação do nitrogênio líquido.

Todo laboratório deve ter muito bem descrito e estabelecido o plano de contingência, para que frente, a qualquer adversidade o plano de ação seja capaz de proporcionar segurança ao embriologistas que deverá executá-lo, assim como ser eficaz e seguro para que não haja perda ou prejuízo aos gametas e embriões.

Marcelo Rufato CRBio 64065/01

Daiane Lopes Bulgarelli Colateli CRBM 13427

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