PREVENÇÃO DE CONTAMINAÇÃO DO LABORATÓRIO

06 ago, 2024

O laboratório de reprodução humana deve dispor de um controle de qualidade rigoroso e deve ser monitorado continuamente. Diversos são os fatores podem afetar o resultado de uma gestação e do tão sonhado bebê em casa. Para isso, é necessário que o ambiente seja seguro, estável e livre de patógenos para a manipulação dos zigotos, gametas e embriões.

O material de revestimento das paredes, tetos e bancadas deve ser facilmente lavável, com o mínimo de bordas, cantos e juntas, reduzindo assim, o acúmulo de partículas de poeira e sujidades. As higienizações, ditas terminais, devem ocorrer sempre que ciclos não estejam em andamento.

A presença de elementos contaminantes do ar e os COVs são os principais poluentes a serem controlados no laboratório de embriologia, pois podem afetar adversamente a embriogênese, a implantação e a concepção nos ciclos de reprodução assistida. Para isso, é imprescindível a utilização de filtros HEPA, de carvão ativado, sistemas de pressão positiva e negativa e sistemas com filtro de ar CODA nos ambientes de área limpa, para melhorar a qualidade do ar, mitigando possíveis contaminações nos momentos de manipulação das amostras e das incubadoras utilizadas nas culturas embrionárias.

Os equipamentos utilizados, como os módulos de fluxos laminares, cabines de segurança, geladeiras, freezer, banho-maria, centrífugas, incubadoras, tanques de nitrogênio, etc., devem ser periodicamente higienizados, certificados e monitorados para estarem em conformidade para uso evitando assim o risco potencial de contaminação. O CRHA deve realizar controles microbiológicos, cuja periodicidade pode variar conforme seu POP, mas nunca exceder o período de 6 meses. Seus ambientes e equipamentos críticos, incluindo a incubadora de CO2 destinada ao cultivo de células germinativas, tecidos germinativos e embriões humanos para uso terapêutico, devem ser monitorados continuamente.

Todos os ambientes onde há possibilidade de contaminação das células germinativas, tecidos germinativos e embriões humanos, ou de contaminações cruzadas, devem ser submetidos a limpeza antes do início das atividades do dia, após o processamento de amostras de cada paciente, e ao final das atividades diárias, de forma rotineira, programada e documentada.

Outra medida protetiva para garantir condições assépticas para a manipulação de gametas e embriões, é a utilização de materiais estéreis, apirogênicos, não citotóxicos certificados para uso com gametas e embriões, de grau farmacêutico e de uso único. Cada lote de meio de cultura deve ser testado de acordo com o protocolo estabelecido pelo laboratório e só devem ser utilizados meios, reagentes e materiais que estejam regularizados junto à Anvisa, de acordo com a legislação vigente.

Todo material biológico humano, por ser potencialmente infeccioso, deve ser manipulado segundo as boas práticas laboratoriais e conforme as normas de biossegurança aplicáveis. Todos os colaboradores devem utilizar os equipamentos de proteção individual e equipamentos de proteção coletiva, em cumprimento às normas de biossegurança.

Os pacientes submetidos a tratamento, devem realizar exames de triagem sorológica para doenças infectocontagiosas, em acordo com a regulamentação nacional e internacional, além de protocolos médicos instituídos. A manipulação e cultivo de amostras de pacientes que apresentarem doenças infectocontagiosas, deve ser realizada, preferencialmente, em laboratórios com áreas e equipamentos exclusivos para esse fim. Em casos de criopreservação o laboratório deverá possuir ambiente adequado e container para cada tipo de agente infeccioso positivo ou reagente, separado dos demais, que estejam liberados para uso.

Embora existam vários protocolos e diretrizes para boas práticas laboratoriais de embriologia de fertilização in vitro que visam reduzir a possibilidade de introdução de um agente acidental no laboratório de embriologia, não existem protocolos padrões disponíveis para detectar e monitorar outras fontes de contaminação por fluidos biológicos e bactérias e fungos no ar ambiente. O baixo número de publicações e relatos de casos que tratam de prevalência de microrganismos em laboratórios de reprodução assistida, sugere que o número de eventos de contaminação é em grande parte subestimado.

Os Centros de Reprodução Assistida são conscientes da importância do ambiente em que ocorre a cultura de embriões, portanto a contaminação é rara. O cumprimento dos requisitos de um sistema de gestão da qualidade, profissionais qualificados, equipamentos confiáveis e funcionando adequadamente, métodos padronizados e execução de protocolos testados cientificamente e exigidos por regulamentações, minimizam ou evitam a ação de agentes contaminantes que afetam os resultados em reprodução assistida.

 

GIOVANNA CANEZIN GALLETTO RIOS

Embriologista do Gênesis Instituto de Reprodução Humana de Cascavel – PR

 

REFERÊNCIAS:

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução de Diretoria Colegiada – RDC n°15, de 15 de março de 2012.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 771, de 26 de dezembro de 2022.

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Kastrop PM. Quality management in the ART laboratory. RBM Online. 2003.

Manual de Procedimentos, Laboratório de Reprodução Assistida. Red Latinoamericana de Reprodución Assistida. 2006.

Morbeck DE. Air quality in the assisted reproduction laboratory: a minireview. J Assist Reprod Genet. 2015.

Organização Mundial da Saúde. Manual de segurança biológica em laboratório. OMS Genebra. 2024.

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Sciorio R, Rapalini, Esteves, S. Air quality in the clinical embryology laboratory: a mini-review. Therapeutic Advances in Reproductive Health. 2021.

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