Qual o melhor óleo?

17 out, 2022

Para responder a essa pergunta, importante entender o que é o óleo e qual sua função para as técnicas de reprodução assistida.

O óleo é produzido por destilação de petróleo seguida de etapas de purificação para remover contaminantes como enxofre e, então, hidrogenação, onde moléculas de hidrogênio são adicionadas às ligações duplas (insaturadas), criando óleo saturado (ligações simples). O objetivo de se eliminar as ligações insaturadas é que elas são suscetíveis à oxidação e, consequentemente, produção de peróxido, composto prejudicial ao desenvolvimento embrionário.

Devido à dificuldade em separar e refinar esses componentes, o óleo mineral leve e o óleo de parafina são, na verdade, misturas principalmente de cadeia reta, com algumas variações cíclicas e aromáticas de hidrocarbonetos. O óleo de parafina é frequentemente usado para óleos que são refinados ainda mais, que aumentam a pureza e os tornam menos reativos a ataques químicos, como por exemplo oxidação. É importante pontuar que nem sempre os óleos ficam completamente saturados, ou seja, ainda apresentam algumas ligações duplas, tornando-os sensíveis à oxidação e formando peróxidos, o que atenta para um correto armazenamento do produto. Bons resultados de estabilidade que previnem a peroxidação estão relacionados a armazenar o óleo refrigerado, ao abrigo da luz, e em embalagens de vidro.

E qual a função do óleo? O óleo tem papel fundamental no desenvolvimento embrionário in vitro, estando em contato direto com o meio de cultivo na placa, cobrindo-o. O objetivo principal de cobrir o volume de meio de cultivo é reduzir a sua evaporação e manter por mais tempo as condições físico-químicas deste meio. Dessa forma, as alterações de pH, as mudanças na osmolaridade, e as flutuações na temperatura do meio de cultivo são minimizadas. Além de estabilizar essas características próprias do cultivo embrionário, o óleo também o protege de contaminação, principalmente vindo dos compostos orgânicos voláteis e do ambiente laboratorial.

O tamanho da coluna de óleo sobre as gotas de meio de cultivo também é um ponto importante a ser considerado nos protocolos laboratoriais. Com uma coluna maior de óleo, há mais proteção. Estudos sugerem que a variação na osmolaridade ao longo do tempo foi menor com um volume maior de óleo.

Alguns grupos ainda costumam praticar a rotina de lavagem do óleo no laboratório, antes de sua utilização no cultivo, apesar de que esta prática tem sido cada vez menos utilizada, uma vez que os óleos hoje em dia passam por diversos tipos de tratamentos na indústria antes de chegar aos Centros de RHA, e são cada vez mais puros. Nesta prática, mistura-se delicadamente em tubo uma quantidade de óleo com meio, como por exemplo o HTF (Human Tubal Fluid). Os possíveis resíduos tóxicos ainda presentes no óleo, sejam lipo ou hidrofílicos, serão separados e removidos pelo contato com o HTF. Depois, retira-se o óleo “lavado”, pronto para utilização no cultivo.

Dito isso, podemos considerar que a utilização do óleo é fundamental para os bons resultados, e o melhor óleo é aquele melhor funciona no próprio ambiente de cada laboratório, de acordo com cada protocolo. Dessa forma, cada Centro deve realizar a validação do tipo de óleo escolhido e sempre atentar para seu correto armazenamento e utilização.

 

Por Fernanda S. Peruzzato

 

Referências:

Ainsworth, AJ. et al. Improved detection of mineral oil toxicity using an extended mouse embryo assay. J Assist Reprod Genet, 2017.

Martinez, CA. et al. The overlaying oil type influences in vitro embryo production: differences in composition and compound transfer into incubation medium between oils. Scientific Reports, 2017.

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