Rastreabilidade das amostras em laboratórios de FIV: identificação, controle e armazenamento
23 jul, 2024
Em um tratamento de Reprodução Humana Assistida (RHA), há diversas etapas incluindo desde a triagem clínica e laboratorial até o uso terapêutico de gametas e embriões. No laboratório de FIV, vários processos estão envolvidos na coleta e manipulação dos gametas e avaliação e cultivo dos embriões, sendo que todos esses processos apresentam riscos e são passíveis de falhas. Os processos considerados críticos são: coleta de gametas, processamento dos gametas, inseminação intrauterina, inseminação por FIV convencional ou ICSI, alocação de gametas e embriões em tubos e placas, criopreservação, transferência de embriões, descarte e transporte de gametas e embriões.
Os riscos de falha relacionados a essas etapas podem resultar da ocorrência de erro humano devido à omissão de verificação, verificação incompleta e automaticidade involuntária. As possíveis consequências dos erros são a perda parcial ou total de material biológico quando o erro é imediatamente interceptado pelos profissionais envolvidos ou, nos piores casos, a transferência de embriões decorrentes de uma troca de amostra.
Para minimizar o risco de falhas acontecerem nesses processos, é imprescindível que cada instituição crie o seu próprio sistema de rastreabilidade eficaz, capaz de garantir a segurança das amostras, dos profissionais envolvidos, dos pacientes e das informações, que seja capaz de localizar com precisão gametas e embriões durante cada etapa do procedimento de FIV, desde a coleta até a transferência e descarte das amostras.
Rastreabilidade é definida como “capacidade de recuperação do histórico, desde a triagem clínica e laboratorial de doador e de paciente, incluindo a coleta, o processamento, o transporte de células e tecidos germinativos, até o uso terapêutico, por meio da identificação e registro dos processos e respectivos insumos utilizados” de acordo com a RDC 771/2022.
Um sistema de identificação apropriado deve garantir a contínua disponibilização de informações sobre as principais características dos pacientes, do ciclo e das células, além de dados relevantes associados aos produtos e materiais utilizados em cada etapa do tratamento. A dupla verificação por um segundo operador, também conhecida como testemunho, é a principal medida de controle empregada para prevenir erros na identificação de amostras biológicas, entretanto, o uso de sistemas eletrônicos está se estendendo rapidamente às clínicas de reprodução assistida em todo o mundo, pois, um sistema de rastreabilidade baseado na dupla verificação por um segundo operador, mesmo que rigoroso, está potencialmente sujeito a erros principalmente relacionadas à carga de trabalho pesada e distração, falha na comunicação da equipe e rótulos manuscritos inadequados.
O sucesso da rastreabilidade dos processos de RHA e o bem-estar do paciente dependem do envolvimento de cada membro da clínica. Processos sempre podem ser melhorados. A rastreabilidade só pode ser garantida se cada envolvido entender e aplicar o procedimento como deve ser. Portanto, os procedimentos de RHA são uma tecnologia particularmente desafiadora, envolvendo uma equipe multidisciplinar que deve garantir qualidade e segurança continuamente.
Segue abaixo recomendações da ESHRE (2015) para identificação de pacientes e rastreabilidade de suas células reprodutivas.
Por: Sabrina M. R. Jacinto Costa
Biomédica Embriologista Sênior, diretora laboratorial da Fertilità, especialista em Reprodução Humana Assistida e Reprodução Animal, mestre e doutora em Biotecnologia Industrial, especialista em Gestão da Qualidade e Segurança do Paciente, Engenheira Ambiental.
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